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BBC Brasil
© Sônia
Moura, Arquivo pessoal/AFP Sônia Moura descreveu como 'revoltante' retorno de
goleiro Bruno ao futebol
Sete anos
se passaram e Sônia Moura ainda busca o desfecho de uma história cujos detalhes
chocantes foram acompanhados de perto por todo o Brasil.
Ela é mãe
de Eliza Samudio, sequestrada e assassinada em 2010 a mando do goleiro Bruno
Fernandes, seu ex-namorado e pai de seu filho, Bruninho.
Bruno,
que foi condenado a mais de 22 anos de prisão pelo crime, confessou saber que
ela havia sido estrangulada e que seus restos mortais foram jogados para os
cachorros. O corpo dela nunca foi encontrado.
Nesta
semana, o goleiro voltou ao noticiário ao ser apresentado como o novo reforço
do Boa Esporte, até então uma desconhecida equipe da 2ª divisão sediada na
cidade de Varginha (Minas Gerais).
Bruno foi
solto provisoriamente no fim do mês passado após uma decisão do STF (Supremo
Tribunal Federal).
Durante
conversa com jornalistas após o anúncio oficial de sua contratação pelo time,
ele se recusou a comentar o passado.
"Estou
muito feliz pela oportunidade dada. As pessoas cobram muito pelo que aconteceu
no passado. O Boa está abrindo as portas para mim, é uma oportunidade dada,
estou muito feliz", disse.
Em
entrevista à BBC Brasil, Sônia, de 51 anos, falou sobre o retorno do goleiro ao
futebol, de sua saída antecipada da prisão e da relação dele com o filho.
Também
afirmou temer por sua vida e a de seu neto. Sobre Bruninho, Sônia se emociona:
"Daria minha vida para amenizar a dor que meu neto vai ter no
futuro", diz ela.
Sônia
sobrevive vendendo salgados e doces em Campo Grande, no Mato Grosso do Sul,
onde mora.
Confira
os principais trechos da entrevista à BBC Brasil.
BBC
Brasil: Como a senhora vê o retorno de Bruno ao futebol?
Sônia
Moura: É
revoltante vê-lo levando a vida dele como se nada tivesse acontecido. É um mau
exemplo, um mau exemplo para a sociedade.
BBC
Brasil: Você esperava que ele saísse da prisão tão cedo (Bruno foi condenado
a 22 anos de prisão, mas foi solto provisoriamente por decisão do STF porque
seu recurso ainda não foi julgado)?
Sônia
Moura: Não. Ele
saiu sorrindo, dando risada, dando risada da cara da sociedade, dando risada da
Justiça. Quem não vê que ele é um homem dissimulado?
Ele é
totalmente frio. Se a minha filha enfrentou todo o tipo de violência com meu
neto no colo, o que esse homem hoje não seria capaz de fazer? Ele vai terminar
o que ele fez lá atrás. Ele fica solto e eu fico presa com meu neto. Quando a
Justiça vai continuar com os olhos vendados? A Justiça está sendo injusta.
BBC
Brasil: A senhora acredita que a memória de sua filha foi de certa forma
esquecida?
Sônia
Moura: Vivo um
luto sem ter o corpo da minha filha. É um luto diário. Mas me preocupo muito
com o Bruninho. Vai chegar um momento em que ele vai perguntar (sobre como a
mãe morreu). E eu vou falar o quê? Não quero tirar a inocência dele. Ele só tem
sete anos.
BBC
Brasil: Qual é a sua relação com o Bruno? Ele oferece algum tipo de ajuda
financeira ao filho?
Sônia
Moura: Nenhuma.
Ao contrário do que a sociedade acha, ele não paga pensão. Desde que ela
(Eliza) estava grávida, ele tentou matar o filho (Bruno é acusado de ter
forçado Eliza a tomar abortivos para interromper a gravidez). Mas hoje ele
vem se posando de pai protetor.
Enquanto
eu viver e tiver força, do meu neto ele não chega perto. Ele tirou a minha
filha de mim e do meu neto, mas o meu neto ele não vai tirar não.
BBC Brasil: Qual mensagem você enviaria aos fãs
do Boa Esporte?Sônia
Moura:
É triste
ver uma pessoa que matou sua filha ter tantos seguidores. É um tapa na minha
cara. Eles levariam os seus filhos para assistir a um jogo de futebol do Bruno?
É esse o exemplo de futebol, de esportista que eles querem para os filhos
deles?
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