O deputado-pastor Marco Feliciano (PSC-SP) não exibe a mínima
intenção de deixar a presidência da Comissão de Direitos Humanos da
Câmara.
Em entrevista a Sabrina Sato, ele disse: “Uma renúncia minha
agora é como se eu assinasse um atestado de confissão.” Como
não se considera nem racista nem homofóbico, Feliciano deseja “provar
isso” mantendo-se na poltrona.
“Fui eleito por um colegiado”, ele
declarou. “É um acordo partidário. E acordo partidário não se quebra. Só
se eu morrer.” A conversa foi gravada na semana passada e levada ao ar
na noite deste domingo (24).
Decidido
a deixar claro que não mudou de ideia, Feliciano convidou os seus
seguidores no Twitter a assistir à entrevista. Fez mais: pendurou em seu
site um texto no qual informa que “prepara viagem oficial à Bolívia”.
Coisa para os “próximos dias”.
Feliciano
irá interceder em favor dos 12 corintianos recolhidos a uma cadeia
boliviana depois da morte de um adolescente na partida do Corinthians
contra o San Jose, no dia 20 de fevereiro. Para preparar a viagem,
informa o texto, o deputado esteve com o embaixador da Bolívia no
Brasil, Jerjes Justiano Talavera.
Tomado
pela movimentação, Feliciano vai remar na contramaré de compromissos
assumidos por dirigentes do seu partido com Henrique Eduardo Alves
(PMDB-RN), presidente da Câmara. Reuniram-se com Henrique o deputado
André Moura (SE) e o pastor Everaldo Pereira –respectivamente líder e
vice-presidente do PSC.
A
dupla comprometeu-se com o presidente da Câmara a providenciar no final
de semana a saída negociada de Feliciano. Desde que foi alçado ao
comando da Comissão de Direitos Humanos, o deputado-pastor não consegue
realizar sessões. Militantes de movimentos gays não permitem.
No
dizer de Henrique Alves, chegou-se a uma situação que é “ruim pra todo
mundo: para o Feliciano, para o PSC, para a comissão e para a própria
Câmara.” Ele espera receber uma resposta dos dirigentes do partido de
Feliciano até esta terça (26). Do contrário, levará a encrenca à reunião
que costuma realizar semanalmente com todos os líderes partidários.
Há
um entrave regimental para a destituição de Feliciano. O pastor foi
eleito pela maioria da comissão. Não pode simplesmente ser arrancado da
cadeira à revelia. Der resto, nunca é demasiado recordar que as grandes e
médias legendas da Câmara –PT, PMDB, PSDB e PSB, por exemplo— foram
cúmplices no descalabro.
Mais:
PT e PMDB chegaram mesmo a ceder ao PSC assentos que detinham na
comissão, permitindo que se formasse a maioria que ratificaria o nome de
Feliciano. Pior: PT, PCdoB e o bloco PV-PPS tiveram a oportunidade de
indicar um de seus deputados para cuidar dos Direitos Humanos.
Preferiram escolher outras comissões.
Com
isso, um colegiado que há 18 anos era comandado por legendas ditas de
esquerda caiu nas mãos do Partido Social Cristão. O PSC ambicionava
outra comissão, a de Fiscalização e Controle. De repente, ganhou de
presente a possibilidade de levar à vitrine seu conservadorismo
religioso em matéria de costumes. Cometeu, porém, um equívoco. Ao
indicar Feliciano, esqueceu de maneirar. Uol
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